quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Sur le pont d'Avignon, l'on y dance, l'on y dance...

A escola de Física de Les Houches é uma das escolas doutorais mais prestigiadas do mundo. Então em França, minina, isto é a Beverly-Hills dos cientistas. Nesta escola existem vários cursos (tipicamente de duas semanas), dedicados às mais diversas áreas. Por cá já passaram alguns dos prémios Nobel da Física, como o Tannoudji e o Chu. Pelo menos são estes que me dizem alguma coisa, pois são os manda-chuva desta área. A selecção dos alunos que vêm a participar nas Lectures consiste num processo mais ou menos longo e envolve cartas de recomendação dos orientadores e tudo mais. Eu fui simpaticamente seleccionado. Pois bem, mas vem a parte gira! É que durante estes quinze dias de autêntico cativeiro científico, temos tempo suficiente para conhecer alguma das pessoas e alguns dos seus hábitos. É fantástico. Serve, então, este bocadito de texto para vos contar um pouco sobre a dinâmica deste grupo (em primeira ordem...):
Uma mão cheia de alemães, cujo desporto favorito é beber cerveja (sim, é incrível!), compõe 30% dos participantes. Não menos numerosos são os franceses, que irritam até o mais santo dos santos com as suas intermináveis interjeições ("haaaaaaannnnn, eeeeehhhhhh, ouiiiiii ehhhhhhh, bien suuuuuuuuuurrrrrrr ehhh) e "voilàs" infidáveis. Quatro indianos que cheiram a sabonete (aquele branquinho que nos deixaram no quarto, ao pé das toalhas), de entre os quais duas raparigas cujo inglês é completamente imperceptível ("caan u telll me whatl tlime is it? How do u comput thisl integlation? Ale you flom Poltugal? Do you knwol Areh-Krishna? To pray! To pray! Gods! Indian Gods!) e têm um swarovski na testa. Uns ainda quantos italianos, sempre a abanar a mão e a dizer "como mai, madonna?" deixam o seu rasto e nos enchem os ouvidos com as suas peripécias passadas entre Florença e Roma, juntamente com uns outros tantos ingleses e irlandeses, com a mania que Cambridge é a capital da ciência, que Londres é fanstástica (mas sem sol, coitadinhos) e que pensam que Francês e Alemão são basicamente a mesma língua. Depois, por fim, uns representantes de uns países um pouco mais exóticos: um maltês (lindo, por sinal) que está a trabalhar ao abrigo de uma bolsa à qual, curiosamente, eu me havia também candidatado (o mundo é mesmo um tamanquinho...), um tunisiano, que por acaso até se dá muito bem comigo mas que tem de ir vergar a mola virado para Meca cinco vezes ao dia, um algeriano com um piercing (pronto, este está descrito), um mongol que está a tentar a sua sorte nos EUA (típica mão-de-obra barata), uma meia-de-gente russa que está sempre com uma caneca de chá e um kiwi ou uma casca de banana ao pé do portátil, que não ri, que é corcunda, workaholic, com uma camisa do pai dela e com o corte do padrinho do crisma. Finalmente, claro, venho eu, sobre quem não há nada a dizer.

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